Deus Ex Human Revolution Review (PS3 & XBOX 360)
Até que ponto somos humanos? Até que ponto vai o conceito de humanismo? Seremos humanos mesmo se deixarmos que a tecnologia se apodere do nosso corpo? Até que ponto continuamos a ser um ser humano, e qual é o ponto em que passamos a ser uma máquina? Qual é a linha que delineia o limite? E quais os problemas que isto poderá trazer? Devemos permanecer humanos? Ou aceitar a tecnologia pelo nosso próprio bem? Todas estas questões são pertinentes e não podiam estar mais dentro do contexto da série Deus Ex, uma das séries de FPS e RPG da Eidos que explorara desde sempre o limite entre a máquina, o homem, e o mundo que o envolve.
Embora o “Transhumanismo” seja um dos meus temas de discussão prediletos, a série Deus Ex foi uma daquelas que me passou totalmente ao lado. Não faltaram boas análises, referências e amigos que me tivessem recomendado este clássico dos videogames. O mesmo sucedeu com Deus Ex Invisible Wars, mas alguns anos depois, mais precisamente em 2010, o trailer de Deus Ex Human Revolution da E3 desse ano colocou Deus Ex novamente no mapa, e no lugar do meu jogo mais esperado para este ano.
Depois de um ano vendo trailers fenomenais, e de ter explorado um bom bocado da versão de preview, chegou finalmente a vez de jogar a versão final de Deus Ex Human Revolution. Será que este é o verdadeiro sucessor de Deus Ex? Será este um dos grandes jogos desta geração? Ou não está ao nível de todas as expectativas levantadas pelos trailers lançados? É isso que vamos descobrir.
Deus Ex Human Revolution acontece em 2027, alguns anos antes da história do jogo original. Aqui é contada a história de Adam Jensen, um ex-SWAT trabalhando como chefe de segurança para a Sarif Industries, uma empresa de construção e implementação de próteses humanas melhoradas, conhecidas como Augmentations. Tudo decorria dentro da normalidade de uma empresa deste gênero, até ao dia em que o interesse amoroso de Adam, a doutora Megan, descobre algo que pode mudar a evolução humana para sempre, isto origina um ataque às instalações por um grupo de soldados especiais que colocam Jensen às portas da morte e colocam em cheque a nova descoberta.
Inanimado e sem voz sobre o seu destino, Sarif ordena que o corpo de Adam sofra melhoramentos através da instauração de um grande número de Augmentations, transformando-o num humano com enormes capacidades de físicas e psicológicas, encarregado agora de descobrir o rasto dos invasores enquanto descobre pelo caminho que existe algo mais escondido “atrás da cortina”.
Mas esta história é apenas a ponta do iceberg, apesar de ter este enredo como motor de jogo, Deus Ex Human Revolution cruza intriga, conspiração e questões éticas de forma brilhante. Em 2027, o tema “Human Augmentation” assume proporções épicas, criando um movimento terrorista contra esta corrente. Isto levanta as tais questões morais e éticas que enumerei no início desta análise, questões altamente pertinentes, especialmente numa altura em que a ciência e a tecnologia procuram corrigir cada vez mais falhas ou problemas humanos.
Claro que aqui tudo é elevado a grandes extremos, levando a questão de racismo entre humanos não melhorados e os Augmented a novos horizontes além da raça, mas é apenas mais uma questão que dá que pensar e confere a esta trama ainda mais conteúdo e profundidade.
Como tal, este é um jogo onde cada pessoa tem a sua opinião e a sua palavra, e sendo um rebento da série Deus Ex, a escolha é algo de extrema importância. Cada ação que fazem, cada escolha que tomam, acaba alterando de forma subtil ou drástica a história do jogo. Como exemplo, na primeira missão podem salvar ou não um grupo de reféns, matar o chefe dos sequestradores ou deixa-lo fugir, entre outras opções. As suas decisões refletem-se daí em diante na maioria dos personagens, e o que é bom para alguns, nem sempre é positivo para outros.
De forma a poder interagir com as pessoas e tomar as decisões, existe um sistema de diálogo ao estilo de Mass Effect, que permite questionar os personagens, tomar posições, entre outras. Por vezes, estas interações não oferecem mais do que informação sobre o mundo do jogo ou dados sobre as missões, mas no caso acima mencionado, cada pergunta ou resposta é vital, e altera o desfecho dos acontecimentos de forma abrupta ou inesperada. Embora Mass Effect seja a maior referência no estilo de causa/efeito através de diálogos, o jogo onde tinha visto os diálogos mais abruptos e inesperados foi em Alpha Protocol, agora o pódio passou para Deus Ex Human Revolution.
Mas como se processa o restante da jogabilidade? No seu âmago, Deus Ex Human Revolution é um FPS, onde a visão está normalmente presa na primeira pessoa, seja em combate, exploração ou interações sociais. Vocês vêem sempre aquilo que Jensen está vendo, o que até ajuda a aumentar a imersão no universo do jogo. A visibilidade na primeira pessoa não interfere de alguma forma, ou limita, todas as potencialidades de Deus Ex, pois tudo acontece de forma natural e fluída, quer estejam visitando as instalações da Sarif Industries, deambular pelas ruas de Detroit, ou infiltrar um armazém.
A visão de Adam é complementada por algumas indicações que mostram a sua vida, a qual regenera ao longo do tempo caso sejam atacados, a barra de baterias com as quais podem usar ataques físicos ou as habilidades especiais, o radar onde surgem os inimigos, e por fim, a arma escolhida e as granadas. Além disto, os implantes de Adam pintam o mundo em tons de amarelo, cada objeto que encontram pelo caminho e com o qual podem interagir, sejam caixas, cacifos, portas, entre outros. Porém, caso queiram uma jogabilidade mais exigente, podem sempre desligar esta função nas opções.
Quando precisam entrar em ação, podem utilizar várias formas de força, ou ausência da mesma, alias, logo na primeira missão, podem escolher se querem agir de forma silenciosa, ou frontal, e se preferem agir à distância, ou perto do alvo. Esta é apenas mais uma das muitas decisões que podem fazer em Deus Ex Human Revolution, mas são decisões que vão nos acompanhar ao longo de todo o jogo.
Caso resolvam agir de forma frontal e com o gatilho pressionado até ao fundo, vão ter um modo de jogo muito parecido a um FPS típico, mas muito mais táctico, pois mesmo estando alterado fisicamente com Augmentations, Adam não é “de ferro”, e isso obriga a que tenham de utilizar as coberturas disponíveis de forma frequente. Quando a situação o exige, apenas precisam de se aproximar de uma cobertura pressionar o botão para que Adam se abrigue. Nesta altura, a visão passa para a terceira pessoa e podem disparar sem olhar ou levantar para fazer pontaria.
Caso prefiram tomar ação pelas próprias mãos, podem sempre usar combate corpo-a-corpo. Cada vez que se aproximam de um inimigo podem decidir se o imobilizam de forma silenciosa, ou se preferem executa-lo de forma mais aparatosa, mas também, mais barulhenta. Cada um dos ataques físicos consome normalmente uma bateria de energia de Adam, por isso, estes ataques precisam ser bem medidos e planejados.
Quando realizam um dos dois tipos de ataques, a imagem passa para um plano mais cinemático do ataque. Embora seja visualmente apelativo, infelizmente, estes ataques são antecedidos por uma tela preta, o que não só corta o ritmo, como parece algo forçado.
Assim que os inimigos estão no chão, podem sempre investigar os seus bolsos para descobrir munições, objetos de valor, pistas de interesse, ou o sempre desejado dinheiro para gastar em armas, munições ou Praxis Points adicionais. Mas o sabor da vitória traz ainda outros benefícios a Adam. Caso consigam fazer ações dignas de nota ou façam as missões principais e alternativas, vão receber pontos de experiência que resultam na angariação dos já mencionados Praxis Points. Com estes pontos, podem melhorar as Augmentations de Adam em qualquer um dos seus tipos, através do menu.
Mas o que são estas Augmentations? Pensem nisto como a evolução das próteses mecânicas de Adam, os Praxis Points servem para melhorar cada uma das características, sendo possível, por exemplo, melhorar as pernas para correr mais depressa, saltar mais alto ou cair de locais mais elevados; melhorar os olhos para conseguir ver inimigos através das paredes; aumentar a resistência física para suportar mais dano, ou em certos casos, adquirir habilidades especiais, como a invisibilidade temporária.
De forma curiosa, Deus Ex Human Revolution passa desta forma a ser o RPG mais credível do mercado, pois a evolução do personagem recorre a melhoramentos feitos às suas próteses, o que faz todo o sentido tendo em conta o universo do jogo e a sua temática de melhoramento humano.
Além das Augmentations, dentro do Menu ainda podem encontrar o menu de items, onde guardam os objetos que encontram, incluindo armas, balas, etc. Este menu funciona em sistema de grelha, sendo necessário organizar a disposição do mesmo para ocupar o mínimo espaço possível e assim, poderem levar ainda mais conteúdo. Embora o espaço seja reduzido, podem sempre gastar pontos de Praxis para aumentar a capacidade de carga de Adam, o que é mais uma boa forma de explicar as várias utilidades destes pontos valiosos.
Pondo o combate de lado por uns instantes, existem outras formas de progredir pelos cenários de Deus Ex Human Revolution. O mais lógico, mas também moroso, é a procura por pistas espalhadas pelo cenário. O segundo, com um cariz mais obrigatório e quase incontornável é o Hacking, funcionando este como um mini-jogo. Para fazer Hacking precisam conquistar uma série módulos, enquanto tentam ao máximo evitar a proteção do sistema, caso isso aconteça, terão de trabalhar o mais rápido possível até chegar ao destino, ou então usar Bugs ou programas para parar o avanço dos verificadores.
O Hacking nem sempre é obrigatório, havendo várias situações onde serve apenas para entrar em computadores para extrair informações não essenciais, felizmente, quando é obrigatório, não se torna demasiado complicado ou inacessível, que chegue a tornar-se frustrante. Como já devem ter percebido, alternativas é algo que existe em grande quantidade em Deus Ex Human Revolution, e isso não acontece apenas em situações de história ou de resolução das missões.
Todo o mundo criado pela Eidos Montreal permite que explorem casas, escritórios, mobília, computadores, etc ., em busca de todas as informações adicionais que fazem deste jogo um dos mais ricos e vastos em termos de história e enredo. Podem encontrar emails que fazem ligação a acontecimentos que apenas ouviram falar, ou personagens que compõem o enredo, ler jornais sobre as últimas notícias, entre muitas outras coisas.
Vamos agora falar finalmente do aspecto visual de Deus Ex Human Revolution, sem dúvida que é um dos jogos desta geração que mostrou as melhores cinemáticas até agora, mas quanto disto está no jogo? Para começar, podem contar com uma transição quase perfeita da ambiência dos trailers para o mundo do jogo. O estilo artístico que mistura Blade Runner com a era dourada do renascimento, pincelado de tons dourados é um mimo para os olhos. Human Revolution transpira ao estilo Cyber-Renascentista que procura recriar tudo de forma exímia. Todos os cenários são altamente detalhados e brilhantemente construídos, e até as ruas de Detroid estão cheias de pessoas que conferem ainda mais vida ao mundo de Deus Ex Human Revolution.
Embora tenha um desenho e ambiente fabuloso carregado de detalhe, muitos vão ficar de pé atrás com os modelos dos personagens. Quando comparadas com todo o resto, os personagens de Deus Ex Huiman Revolution chegam a parecer algo simples e desprovidos de grandes detalhes faciais, mas embora seja um ponto negativo para alguns, é notório que esta estilização dos personagens foi certamente uma decisão da equipe de produção, pois o detalhe visual dos cenários é tão grande que não fazia sentido não ter sido utilizado nos personagens. Onde falha, é sim nas expressões corporais, em alguns casos, os gestos parecem pouco naturais, e há personagens que repetem padrões de comportamento ao estilo de cópias robotizadas, mas só os mais atentos vão encontrar este último defeito.
Em relação ao som, esta é mais uma área em que Deus Ex Human Revolution faz um trabalho exemplar. Não só todos os personagens falam com linhas de voz cada vez que interagem com elas, como as vozes ainda são bastante boas, estando ao nível dos trabalhos realizados pela Bioware. O destaque vai, como não podia deixar de ser, para a voz de Adam Jensen (Elias Toufexis) que mostra bem o espírito de um homem marcado pelo tempo e que já passou por muito durante o seu trabalho na SWAT. Outro destaque vai para o patrão de Jensen, David Sarif, que também é um dos personagens mais interessantes do jogo.
A música é outro ponto alto de Human Revolution, a equipe da Eidos Montreal juntamente com Michael McCann (conhecido pelo nome artístico de Behaviour), criaram várias faixas que utilizam um estilo de música futurista carregada de batidas ao estilo cybernoir, eletrônica e electrosymphonic ambience, misturado com vozes e cânticos que fazem o cruzamento entre a máquina associada à tecnologia, e a vertente humana.
Por fim, passo a falar do som ambiente. Como seria de esperar, os sons das balas, passos e outros foram criados com um realismo soberbo, mas 2027 já “reproduz” outros sons que ainda não conhecemos, mesmo assim, a Eidos Montreal fez uma série de sons futuristas que embora sejam o som típico de objetos ou armas do futuro, não atravessam a barreira do ridículo, acabando sendo até bastante credíveis.
Apesar de ser um jogo para jogar em Sinlge Player, Deus Ex Human Revolution é uma aventura bastante longa, com dezenas de caminhos alternativos e finais diferentes para conhecer, dito isto, todos aqueles que ficarem absortos no mundo de Adam Jensen vão certamente querer jogar a história mais que uma vez, de forma a descobrir ainda mais informação adicional, enfrentar cada missão de forma diferente, tomar decisões distintas e ver todos os finais, algo que pode demorar várias dezenas de horas por cada vez que recomeçam um novo jogo.
De fato, ainda mencionei poucos defeitos a Deus Ex Human Revolution, mas a verdade passa por isso mesmo, é um jogo que não faz tudo bem, e que algumas falhas dependem um pouco do gosto do jogador, mas tendo em conta o tamanho esmagador da aventura, os estilos de jogos aqui comprimidos e a interação que permite ao jogador, os pontos altos conseguem eclipsar em grande parte os menos conseguidos. De qualquer forma, juntando aos poucos mencionados até agora, podem ainda adicionar alguns tempos de loading bastante longos.
Deus Ex Human Revolution não é o melhor jogo desta geração e está ainda mais longe de ser o melhor jogo de sempre, mas não existem dúvida alguma de que Deus Ex Human Revolution é uma experiência fenomenal e um jogo especial, e muitos vão fazer dele um jogo de culto.
A sua mistura entre ação, exploração e interação é tão fluída e natural como a liberdade de escolha e a sequência de causa/efeito que permite explorar, isso é algo que poucos jogos conseguiram fazer tão bem como a saga Deus Ex, e em Human Revolution, tudo isto foi aperfeiçoado. Juntem aos pontos altos um enredo de luxo, um mundo rico em conteúdo e história e vários desfechos, e Deus Ex Human Revolution ganha claramente o estatuto de um jogo obrigatório. Tal como a cor dourada que o acompanha, Deus Ex Human Revolution é ouro em estado puro.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
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